A imagem que nos inspira é um tributo visual à gênese do automóvel moderno, reunindo os veículos inaugurais de 16 marcas lendárias, desde os primórdios do século XIX até meados do XX. Cada ilustração evoca não apenas designs antiquados, mas inovações que moldaram o transporte global. Fundadas em épocas de efervescência industrial, essas empresas pioneiras transformaram carruagens a vapor em máquinas acessíveis e potentes. Neste artigo profissional, mergulhamos na história de cada primeiro carro de produção, destacando suas especificações técnicas, contextos de lançamento e impactos duradouros. Ordenados conforme a composição da imagem, esses modelos narram a saga da engenharia automotiva, da experimentação artesanal à produção em massa.
Mercedes (1886): O Benz Patent-Motorwagen – O Berço do Automóvel Moderno
Considerado o primeiro automóvel prático da história, o Benz Patent-Motorwagen foi patenteado por Karl Benz em 1886 e entrou em produção limitada no mesmo ano. Este triciclo motorizado, equipado com um motor monocilíndrico de 1,0 litro e quatro tempos produzindo cerca de 0,68 cv a 400 rpm, utilizava transmissão por correia de velocidade única. Com rodas de madeira e freio manual, alcançava velocidades modestas de 16 km/h, mas revolucionou a mobilidade ao dispensar tração animal. Vendido por 600 marcos alemães, ele pavimentou o caminho para a Daimler-Motoren-Gesellschaft, precursora da Mercedes-Benz, simbolizando o nascimento da era automotiva.
Cadillac (1902): O Runabout e Tonneau – Precisão Americana em Movimento
Fundada por Henry Leland, a Cadillac lançou seu primeiro modelo em 1902: o Runabout e o Tonneau, carruagens sem cavalos de dois lugares impulsionadas por um motor monocilíndrico de 10 cv. Esses veículos, com chassi de aço estampado e transmissão por correntes, custavam US$ 850 e priorizavam precisão de fabricação – uma marca registrada da empresa. Produzidos em Detroit, eles estabeleceram padrões de qualidade que culminariam na vitória no desafio Dewar Trophy em 1908, provando a intercambialidade de peças. O legado? Cadillac se tornou sinônimo de luxo acessível nos EUA.
Audi (1910): O Type A 10/22 PS – Engenharia Alemã em Quatro Rodas
A Audi, nascida da fusão da August Horch Automobilwerke, estreou com o Type A em 1910, um Sport-Phaeton de 10/22 cv equipado com motor de quatro cilindros em linha de 2.612 cm³. Capaz de atingir 70 km/h, este modelo de tração traseira e freios mecânicos representava robustez e inovação, com produção inicial de 22 unidades. Projetado por August Horch, ele incorporava o DNA de durabilidade que definiria a marca, pavimentando o caminho para os “quatro anéis” simbólicos da união de empresas alemãs em 1932.
BMW (1927): O 3/15 PS – Da Aviação para as Estradas
Embora fundada em 1916 como fabricante de motores de aeronaves, a BMW entrou no mundo automotivo em 1927 com o 3/15 PS (também conhecido como BMW-Dixi DA-2), uma reinterpretação do Austin Seven britânico após a aquisição da Dixi. Este pequeno roadster de 15 cv, com motor de dois cilindros e 747 cm³, acelerava até 70 km/h e custava acessíveis 2.000 marcos. Produzido em Eisenach, ele marcou a transição da BMW para veículos civis, enfatizando leveza e performance – traços herdados de sua herança aeronáutica.
Peugeot (1891): O Type 2 – O Primeiro Automóvel a Quatro Rodas da França
Armand Peugeot, em parceria com os irmãos Voisin, lançou o Type 2 em 1890 (com produção em 1891), o primeiro automóvel a quatro rodas da marca, movido por um motor Daimler de 4 cv e 1.410 cm³. Com suspensão de três pontos e transmissão de engrenagens deslizantes, este phaeton aberto acomodava quatro passageiros e atingia 18 km/h. Produzido em 29 unidades, ele sinalizou a virada da Peugeot de bicicletas para automóveis, estabelecendo-a como pioneira na França industrial.
Ford (1903): O Model A – O Início da Revolução Industrial
Henry Ford fundou sua empresa em 1903 e imediatamente lançou o Model A, um runabout de dois lugares com motor de dois cilindros opostos de 8 cv e 1.884 cm³, capaz de 45 km/h. Montado a partir de peças de fornecedores, com transmissão planetária de duas velocidades, ele custava US$ 750 e vendeu 1.700 unidades no primeiro ano. Embora eclipsado pelo Model T, o A representou o compromisso de Ford com acessibilidade, lançando as bases para a linha de montagem.
Chevrolet (1911): O Series C Classic Six – Inovação em Seis Cilindros
Billy Durant fundou a Chevrolet em 1911, e seu primeiro modelo, o Series C Classic Six, foi introduzido no mesmo ano com produção iniciando em 1912. Equipado com um motor de seis cilindros em linha de 4.948 cm³ e 40 cv, com válvulas em cabeça, este touring car de tração traseira acelerava até 80 km/h e custava US$ 2.150. Vendendo 5.000 unidades, ele ajudou a Chevrolet a desafiar a Ford, enfatizando conforto e potência precoce.
Volvo (1927): O ÖV 4 (Jakob) – Segurança Escandinava desde o Início
Lançado em 10 de agosto de 1927, o ÖV 4 – apelidado de “Jakob” – foi o primeiro Volvo, um sedan de quatro portas com motor de quatro cilindros de 2.000 cm³ e 27 cv, projetado para resistir ao clima sueco rigoroso. Com chassi reforçado e freios em todas as rodas (inovação rara), ele atingia 80 km/h e incorporava o mantra “Segurança” da marca desde o protótipo. Produzido em Gotemburgo, marcou o compromisso da Volvo com durabilidade.
Renault (1898): O Type A Voiturette – Acessibilidade Francesa
Louis Renault construiu seu primeiro carro em 1898, o Type A Voiturette de 1 cv, um pequeno veículo de um cilindro de 273 cm³, com tração traseira e capacidade para duas pessoas a 35 km/h. Vendido por 3.000 francos após uma demonstração impressionante em Paris, ele iniciou a produção em massa na França, com 108 unidades no primeiro ano. Simples e confiável, pavimentou o caminho para a expansão global da Renault.
Rolls-Royce (1904): O 10 HP – Luxo Britânico Incomparável
Charles Rolls e Henry Royce uniram forças em 1904 para lançar o 10 HP, um modelo de dois cilindros de 1.989 cm³ e 10 cv, com transmissão de três velocidades e freios em todas as rodas. Vendido por £395, este carro de turismo suave e silencioso foi exibido no Salão de Paris, vendendo 15 unidades inicialmente. Sua engenharia impecável definiu o padrão de luxo, evoluindo para ícones como o Silver Ghost.
Citroën (1919): O Type A – Democracia Sobre Rodas
André Citroën revolucionou a indústria com o Type A em julho de 1919, o primeiro carro de massa europeu: um 10 cv de quatro cilindros de 1.452 cm³, com freios em todas as rodas e produção em linha de montagem. Custando 7.950 francos, ele vendeu 24.000 unidades no primeiro ano, acessível para a classe média. Projetado para robustez urbana, ele estabeleceu a Citroën como inovadora em design funcional.
Nissan (1931): O Datsun Type 11 – Pioneirismo Japonês
Sob a marca Datsun (precursora da Nissan), o Type 11 foi lançado em 1931 pela DAT Motorcar Co., um roadster de 17 cv com motor de três cilindros de 495 cm³, inspirado no Austin Seven. Produzido em 176 unidades, ele marcou a entrada do Japão no automóvel acessível, com foco em exportação. Evoluindo de protótipos de 1914, simbolizou a ascensão da Nissan como potência global.
Lancia (1906): O Tipo 51 (12 HP Alfa) – Inovação Italiana
Vincenzo Lancia apresentou o Tipo 51 em 1907 (com raízes em 1906), um 12 HP de quatro cilindros de 2.544 cm³ e 28 cv, com transmissão de engrenagens constantes e suspensão inovadora. Produzido até 1908 em 105 unidades, este modelo de turismo priorizava conforto e performance, refletindo a visão de Lancia para veículos avançados. Ele lançou a tradição italiana de engenharia refinada.
Bentley (1919): O 3 Litre – Velocidade e Durabilidade Britânica
W.O. Bentley lançou o 3 Litre em 1921 (desenvolvido desde 1919), um sports car de quatro cilindros de 2.996 cm³ e 90 cv, com transmissão de quatro velocidades e capacidade para 80 mph. Vendendo 1.600 unidades até 1929, ele brilhou em corridas como Le Mans, enfatizando “velocidade com silêncio”. Seu chassi robusto definiu o ethos de grand touring da Bentley.
Toyota (1935): O Model AA – O Salto para o Mercado Global
Kiichiro Toyoda, filho do fundador da Toyota, completou o Model AA em 1936 (protótipo de 1935), um sedan de seis cilindros de 3.378 cm³ e 60 cv, inspirado no Chevrolet Master. Produzido por ¥3.350, mais barato que rivais americanos, ele vendeu 1.400 unidades inicialmente. Marcando a transição da Toyota de teares para automóveis, ele estabeleceu princípios de qualidade lean manufacturing.
Volkswagen (1938): O KdF-Wagen (Beetle) – O Carro do Povo
Concebido por Ferdinand Porsche em 1938 sob o regime nazista, o KdF-Wagen (posteriormente Beetle) foi o primeiro Volkswagen: um compacto de quatro lugares com motor flat-four refrigerado a ar de 985 cm³ e 23 cv na traseira. Projetado para custar 990 marcos e rodar 100 km/h, a produção em massa iniciou em 1945, mas o protótipo de 1938 revolucionou o conceito de “carro popular”. Mais de 21 milhões de unidades foram produzidas, democratizando a mobilidade.
Esses primeiros modelos não eram meras curiosidades mecânicas; eram catalisadores de uma revolução social e econômica. Da ousadia de Benz à visão democrática de Citroën e Porsche, eles ilustram como o automóvel transcendeu o luxo para se tornar ferramenta essencial da modernidade. Hoje, em 2025, enquanto enfrentamos desafios como a eletrificação, esses pioneiros nos lembram que a inovação sempre parte de uma faísca de engenhosidade. A imagem, assim, não é apenas um colagem nostálgica, mas um mapa da herança que impulsiona o futuro sobre rodas.
