Gregos, Cr$ 500 milhões e o maior assalto a banco da história de SP

 

Estamos no dia 27 de janeiro de 1965, na Praça do Patriarca, Centro de São Paulo. Parecia mais um dia normal na região, com grande circulação de pedestres e os funcionários do Banco Moreira Salles trabalhando normalmente. Isso até às 13h15, quando uma gangue de criminosos gregos agiu, matou uma pessoa e realizou o maior assalto a banco da história da cidade.

modus operandi do assaltantes foi relativamente simples: abordaram a perua do Banco Moreira Salles, na altura da rua Líbero Badaró, renderam os funcionários e mataram José Francisco Pepe, tesoureiro-chefe que conduzia o veículo e reagiu à abordagem. O resultado do assalto foi a tomada de seis sacolas de lona com a soma de Cr$ 500 milhões (estima-se que, na época, com esse valor, era possível adquirir 125 fuscas).

O Edifício da União dos Bancos Brasileiros fica ao lado da Rua Direita, Praça do Patriarca, Centro Histórico. A foto é de 1966.


A rápida ação dos sete gregos envolvidos no crime, segundo fontes toda a movimentação durou dois minutos, marcou época e “enlouqueceu” a imprensa da época. E essa surpresa da imprensa e da população se justificava: os gregos observaram por dias a perua do banco, estudaram seus movimentos e imaginaram uma abordagem “rápida”.

O plano inicial era o de usar um DKW para fechar a rua e abordar a perua. Um dos homens ficaria no carro e os outros atacariam, levando até garrafões com gasolina e um pano para fazer uma tocha, que seriam usados para dispersar a polícia, se fosse preciso. A gangue tentou três vezes essa abordagem, até que o chefe dos bandidos percebeu as falhas e concluiu que era preciso trazer mais um homem e mais um carro para a ação.

Diante dessa necessidade, um comparsa que trabalhava no Rio de Janeiro, foi chamado para completar a gangue e concretizar o assalto. Coube a ele alugar um carro no Rio e vir para São Paulo. Importante ressaltar que, nessa época, era proibido alugar um carro em um estado e trafegar para outro. 

Garyfalous Nikolaus Krassas, assassino do funcionário do Moreira Salles, lê o Notícias Populares

Com o bando de criminosos completo, era o momento de agir. Equipados com bigodes postiços, óculos escuros, ternos, capas e cola látex nos dedos para esconder as digitais, os assaltantes abordaram a perua do Banco Moreira Salles e realizaram o assalto, como já dissemos. O grande detalhe disso tudo fica por conta de que o integrante que viera do Rio de Janeiro cometeu um erro: ele parou no viaduto do Chá para esperar e seguir a DKW dos gregos com o dinheiro.

Só que ele ele parou o carro em lugar proibido, sendo abordado por um guarda-civil na praça Patriarca. Ele foi multado e, como o veículo estava sem documentos e não era de São Paulo, o guarda solicitou o guincho para levá-lo ao pátio da DST (Diretoria do Serviço de Trânsito). Só o motorista percebeu a bobagem que fizera e conseguiu “fugir”, deixando o carro no local. 

Os gregos, com o dinheiro em mãos, fugiram para a Estamparia Parisiana, na rua Marambaia, no bairro da Casa Verde, na zona norte da capital. O bando era composto por Gerassimos Andreas Tsolias, Evangelos Demitrius Flengas, Garyfalous Krassas, Michel Basile Nikolaides, Theodoros Kyriakos Apergis, Georges Andreas Tsantillas e Eleftérios Kyriakos Apergis.

Na foto em ordem sequencial: Georges Andreas Tsantilas, Evangelos Demetrius Flengas, Gerasimos Andreas Tsolias, Garyfalous Nicolau Krassas, Theodoro Kiriakos Apergis e Michel Basile Nicolaides.


Ao chegarem na estamparia, o dinheiro foi escondido e o que havia de provas foi queimado. Ao mesmo tempo, a polícia começava a agir. Foram destacados dois delegados muito famosos à época: Coriolano Nogueira Cobra e Nerval Ferreira Braga para solucionar o crime. Entretanto, mesmo com grande parte da força policial à disposição, o crime não era solucionado.

Vários jornais ficaram “em cima” do caso pedindo uma solução. Dizem que Adhemar de Barros, governador da época, chegou a cobrar uma solução rápida para o caso, já que todos estavam assustados com a ousadia dos assaltantes. Por mais de um mês, a polícia andou em círculos até que o delegado Coriolano, em uma entrevista com uma testemunha, foi informado de um carro que fora usado para travar o trânsito na Rua Líbero Badaró.

Curioso com essa história, o policial pediu um levantamento de todas as multas que foram aplicadas na região central da cidade. O levantamento demorou três dias para ser feito e uma infração chamou a atenção: multa e guincho de um veículo que estava no nome de Michel Basile, com a chapa do Rio de Janeiro.

Diante disso, as polícias de São Paulo e Rio de Janeiro trocaram informações e dois agentes se deslocaram para o estado vizinho buscando capturar o criminoso. Luis Olivares e Carlos Nascimento foram os escolhidos para ajudar no cerco ao prédio em que morava Michel. Um agente da polícia subiu, tocou na casa de Basile e disse que era um comerciante que estava com um cheque sem fundo passado pelo grego.

Acreditando no “causo”, ele seguiu o policial e foi preso e conduzido a um veículo cedido pelo Banco Moreira Salles. No caminho, Michel acreditou que era vítima de um sequestro e confessou o crime, como um meio de tentar exercer alguma autoridade sobre aqueles homens. Era o que a polícia precisava para prender de vez Michel e começar a caça ao resto do bando.

Com as informações fornecidas por Michel, a polícia foi para a Zona Norte em busca dos outros criminosos. A estamparia foi cercada e quatro bandidos foram presos. No local, Cr$ 465 milhões foram recuperados dentro de tonéis. A ausência de Cr$ 35 milhões foi justificada com a compra de veículos, mas nenhum carro foi localizado pela polícia.

Policiais Civis apresentando o dinheiro recuperado do roubo de 500 milhões de cruzeiros do Banco Moreira Salles, em janeiro de 1.965

Chegava ao fim um dos crimes mais famosos de São Paulo. Uma informação curiosa: o Banco Moreira Salles havia oferecido um prêmio de Cr$ 10 milhões a quem fornecesse informações que ajudasse na captura dos bandidos. Como não houve essa “ajuda” externa, o banco acabou repassando o dinheiro para a família do funcionário José Francisco Pepe, morto no assalto.

Em 29 de novembro de 1965, foi divulgada a sentença dos criminosos: 103 anos de prisão. Há a informação que, a partir desse assalto, o transporte de valores passou a ser escoltado e feito com mais cuidado. O Banco Moreira Salles deu lugar à sede do Unibanco, atual Itaú. 



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